A neve dos pobres.


Nunca vi nevar. Pelo menos neve digna do nome e de menção quase romântica da sua existência.
Nunca viajei para país distante que a trate pelo diminutivo, que a comprimente com beijinhos e abraços de cumplicidade própria do longo conhecimento.

Aqui caí granizo.
Pequenas pepitas brancas, redondinhas e perfeitas.
Granizo.

Talvez me encontre, ocasionalmente, jurando a futura deslocação a esses locais que a neve escolheu.
Isso até cair granizo.

Nesse momento dou gargalhadas com a maravilha do fenómeno.
Sentada numa pequena esplanada, apenas protegida por um coberto reduzido, fino e frágil  nesta cidade com sabor a vila, vejo-o cair.

Salta das tábuas de madeira, ao precipitar-se nestas pontes pitorescas que unem os lados da ria uns aos outros, qual Veneza Lusitana.

Pedacinhos de gelo, perfeitos no seu brilho opaco, voam depois pela calçada portuguesa com o sopro forte deste vento característico, qual Chicago Europeia.

O caos climatérico que num instante se instala faz-me sorrir e protejo o livro que tenho nas mãos pelo simples respeito que tenho à propriedade alheia.

As futuras viagens prometidas de mim para mim vão de certo acontecer, mas o(s) entretanto(s) não me entristecem, encontrando-me eu aqui. E que bem que estou.

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