Três estrelas cadentes no meu jardim.
Ai! Suspiro pelas noites de Verão. Suspiro e ainda as vivo.
Não sou de nostalgias tardias e súbitos rompantes de sabedoria. Apercebo-me
do bom mesmo quando o estou a viver. Ai, as noites de Verão!
Quando, nestas noites, encontro um momento comigo, um daqueles
momentos de reflexão e, de sorriso nos lábios mesmo face a dor no peito, conto
três estrelas cadentes sentada na relva do meu jardim, percebo que, mesmo na
tristeza sou feliz.
Para oferecer não tenho nada. Nada a mais que este sorriso e um andar
trôpego pelas ruas, parvo de descontracção. A vida é-me bela mesmo quando
chove. Mas, ai!, as noites de Verão.
Para oferecer não tenho nada. Um monte de livros e cd’s e cadernos
riscados de devaneios e fotografias e lembranças e sonhos enchem o meu mundo e
a minha alma.
Nunca fiz grandes viagens ou descobertas. Não escrevi um famoso romance
ou uma peça. Não te sei falar dos astros para além da sua beleza, nem das marés
para além da sua cor. Sei do horizonte apenas aquilo que vejo, e dos céus
apenas o sonho de lhes pertencer.
Para oferecer não tenho nada. Sou este monte de livros e interesses
desconectados que vês e que nunca escondo. Uma grande sede de conhecimento. Uma
preguiça persistente. Uma vontade de ser mais. Sou, ainda e talvez sempre, mais
vontade que realização.
Não possuo mistérios por resolver, sou antes uma pessoa normal. Não tenho
dinheiro, nem em herança. Nem carro. Nem casa. Hoje nem tenho uma cama para me
deitar. Enrolo-me nos lençóis deste leito improvisado e mesmo assim sou feliz.
Tenho apenas estes livros e toda a alegria de viver. Parece-te pouco. Dava-te
o mundo. Não te posso oferecer nada.
Para mim, não quero nada,
Umas festas, uns livros, umas músicas, uns amigos, uns amores… ai, as
noites de Verão!
“Não sou
nada.
Nunca serei
nada.
Não posso
querer ser nada.
À parte
isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” – Alvaro de Campos
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