Morrer de hipotermia e estupidez.


Partiste-me qualquer coisa em cinco medidas. Talvez tenham sido mais.
Mas partiu-se-me qualquer coisa… uma perna, um braço, uma costela! Partiu-se-me qualquer coisa.

Fico aqui deitada a saborear o ardor, o sangue coagulado debaixo da pele.

Temo que esta me mate de vez. E era isso que eu queria: morrer para o corpo.
Partir tudo o que há para partir esquecer-me do mundo, beber todas as garrafas, fumar todos os cigarros, gastar todo o dinheiro, arrancar toda a minha roupa e atirar-me ao mar, a um qualquer mar revolto de espuma branca e água gelada.
Morrer de hipotermia e estupidez. Não haverá morte mais verdadeira que a de membros partidos e insanidade diária!

É disso que sofro: insanidade. Não há cura, não há tratamento! Ligue-me as máquinas, induza-me coma eterno, deixem-me dormir que não tenho coragem de morrer.
Acordem-me quando essa tal monção passar. Acordem-me quando não existir mais razões de viver, quando o mundo tiver acabado. Ou só uns minutos antes disso. Deixem-me assistir ao fogo de artificio que acabará com a Humanidade. Guarda um copo de whisky velho que é só disso que preciso.

Cortem-me o cabelo, arranquem-me as unhas. Isso não me importa desde que parti uma costela… (foi isso não foi?!) ou uma borboleta em casulo de pedra ou outra coisa qualquer.
Mas a insanidade é certa.
Influencia o meu corpo, manifesta-se fisicamente com o mudar de cor das faces e o tremer dos membros e a falta de ar momentânea. Não sei se estou a dormir ou acordada...

Partiu-se-me qualquer coisa em cinco medidas.

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