Nenhum lugar te merece.

Porque nenhum lugar te merece, mesmo quando estou contigo noto isso. 

Noutro mundo, talvez, exista tal paisagem utópica capaz de emoldurar o ar que respiras. A honra de sujar os teus pés descalços. Alguma outra brisa merecedora de sacudir a camisa que tens no corpo. Outro rio, mais puro, deve ser adequado a te matar a sede, a te passar pelos lábios. Outro céu talvez mereça a tua contemplação. Mas não será azul, essa cor vulgar do céu de todos os dias e todas as pessoas. 

Vejo-te sob céu purpura. Talvez. Purpura.

Manda-me um postal desse lugar onde te encontras, esse paraíso onde tens que estar. 

Não te respondo porque não há palavras, nem canções, nem gestos na minha imaginação que sejam suficientes para descrever e demonstrar o quanto penso que a almofada onde dormes deve ser produto dos melhores linhos, recheada com penas de um qualquer ganso dos ovos de ouro, debruada a diamantes.

À tua volta o universo é obrigatoriamente diferente. Altera-se num diâmetro que te rodeia, porque até o universo tem consciência que é pouco para ti, até ele se esforça por ser melhor quando apareces. Tenta convencer-te a ficar.

Não te convenço a ficar. Não me consigo melhorar nem brilhar o suficiente para merecer isso. 

Vejo-te passar e sorrio porque também sorris. Sorris sem saber que o mundo se esforça para estar à tua altura. As flores perfumam-se mais, as bebidas refinam-se, as ruas alargam-se, os pássaros afinam as vozes. Sorris e eu também.

E espero.

Espero por uma outra realidade onde me seja possível provar o direito, com que sonho, de estar ao teu lado, falar contigo de vez em quando, talvez, num momento louco, te tocar num ombro ou numa mão ou num fio de cabelo.

Num momento muito louco, sem reparares no meu gesto, sem mais ninguém ver, sem te pedir mais.

Jurava segredo. Ficava de quatro. Pagava dízimo. Fazia penitencia. Deixava de comer.

Mas isso não interessa. Só não te deixes amar por alguém que te julgue qualquer coisa menos que tudo isso.